Páginas

quarta-feira, maio 23, 2012

:: A Trilogia das Cores ::






A "Trilogia das Cores" (coletânea de três filmes do diretor polonês Krzysztof Kieslowski) é uma sinfônia para os cinco sentidos. O diretor misturou cores, texturas, música associadas à sensações de sabor e cheiro em três filmes completamente interligados e incansáveis. O projeto nasceu por dois motivos: bicentenário da revolução francesa, de onde vem o lema "Liberdade, Igualdade e Fraternidade" e pela unificação da Europa.

O primeiro filme, "A Liberdade é Azul" de 1993, narra a história de uma famosa modelo (Juliette Binoche) que perde o marido e filha num acidente de carro e decide renuciar a tudo que lhe prende ao passado. Sem êxito a personagem começa a jornada filosófica onde se questiona o filme inteiro se a liberdade é de fato possível. Como era de se esperar a fotografia do filme é toda trabalhada no filtro azul, o que nos dá a sensação de calmaria e ao mesmo tempo solidão (frio) além de ter um enquadramento todo no zoom, com o objetivo de destacar as pequenas coisas (o que é importante para a personagem).




No segundo filme, "A igualdade é branca" de 1994, o personagem central é Carol (Zbiniew Zamachowski) um polonês que não fala francês apesar de morar no país e ser casado com uma francesa. Usando filtros e elementos na cor branca e enquadramento mais fechado, a narrativa gira em torno do divórcio de Carol e Dominique (sua esposa) onde ele, como estrangeiro, é obrigado a assinar o divórcio sob julgamento sem entender uma única palavra do que está sendo acordado. O filme questiona "onde está a igualdade na sociedade?" e mostra como os estrangeiros se sentem morando em outro país que defende a igualdade mas não a pratica.




O terceiro e último filme, "A Fraternidade é Vermelha" é o único dos 3 no qual eu não vejo sentido no uso das cores. Vermelho no conhecimento geral remete à paixão, calor, ferocidade. O filme é o mais brando de todos,  fora a cena onde a principal personagem Valentine (Irene Jacob) atropela um cachorrinho, pois mostra a história de uma universitária (e modelo nas horas vagas) que após o acidente com o cachorrinho, conhece um juiz aposentado (e dono do cachorro) que tem o hobby de escutar as ligações telefônicas dos vizinhos. Ela se vê entre aproveitar o momento voyer e denunciar o juiz. É neste dilema que se inicia o questionamento do filme: mesmo sabendo que é algo é errado nós conseguimos ser fraternais com o próximo?!




Nos três filmes os personagens terão suas vidas transformadas pelo acaso e estarão em conflitos relacionados ao tema/lema de cada cor. Afinal, seria A liberdade algo trágico? A igualdade uma comédia? A fraternidade inexistente? Perguntas essas que poderão ter inúmeras respostas pois a trilogia nos proporciona significados variados entrelaçados nos 3 filmes.

Nota: Vale observar que nos 3 filmes os 3 personagens aparecem várias vezes no mesmo ambiente, porém eles não se conhecem. Pegadinha do diretor =]

Nota 2: O meu preferido é o Azul pela história, fotografia, detalhes, enquadramento, trilha, atriz...enfim tudo!

A Liberdade é Azul
França/Polônia, 1993. De Krzysztof Kieslowski. Com Juliette Binoche, Benoit Régent, Heléne Vincent e Florence Pernel.

A Igualdade é Branca
França/Polônia/Suiça, 1994. De Krzysztof Kieslowski. Com Zbigniew Zamachowski, Julie Delpy, Janusz Gajos e Jerzy Stubr.

A Fraternidade é Vermelha
França/Polônia/Suiça, 1994. De Krzysztof Kieslowski. Com Irene Jacob, Jean-Louis Trintignant, Jean-Pierre Lorit

by
Carol Racional

Link